Cidade 05/03/2019 10:49

A vida num CLICK

Falece o amigo Antônio Calino, deixando imagens na vida e em nossas mentes e corações

Recebi ontem, 04/03/2019, com tristeza, a notícia da partida do amigo e padrinho de casamento, Antônio José Moura Calino. Homem com sensibilidade a flor da pele e um olhar como poucos, atento aos detalhes e zeloso com a família e amigos.

Calino foi quem me apresentou ao mundo industrial, levando-me a fazer com ele diversos trabalhos na Siderúrgica Mendes Júnior, Dupont, Xerox, CSN e tantas outras. Do alto de pontes rolantes em busca dos melhores ângulos para registrar os processos nos audiovisuais que fazíamos juntos. Ele nas fotos e eu na seleção de imagens e textos.

Estar com esse amigo sempre foi um privilégio. Ouvir sua trajetória profissional em algo que começou como hobby sempre me emocionava. Perceber sua preocupação em aprender sempre, indo com ele aos cursos promovidos pela Kodak no Rio de Janeiro e tantos outros. Além de amigo, foi meu professor, nas relações interpessoais, no zelo em tratar as pessoas, na sensibilidade e gosto refinado na música e nas artes. Eu Sempre ria quando ele passava por um Van Gogh, mesmo reproduções. Ele arregalava os olhos e dizia: Essa arte provoca em mim inquietações. E de fato ele fazia o possível por ficar o mais afastado que podia, mesmo elogiando o trabalho profissional e as pinceladas do autor.  Quem sabe não fosse pelo seu olhar aos pequenos detalhes que talvez revelassem a ele o que nossos olhos não captavam.

Quando tomávamos café, ele sempre pedia “maquiato”. Gostava. Algumas vezes o vi chorar, pelo cuidado com a família, especialmente os netos, outras pela alegria de ver uma coisa bela, nos museus, no cotidiano. Foi bom poder compartilhar com ele minhas inquietações e ouvir as dele. Nossa amizade se solidificou com essas experiências.

A vida num Click. Tão rápida e tão bela. Queria poder fazer como juntos fizemos a foto icônica de Volta Redonda, as 17:00 no topo do edifício Pastor. Ele montou rapidamente seu equipamento sobre o tripé, apontou para o por do sol que tingia de laranja o céu, mirou nos altos fornos e atarrachou um acionador do obturador para acionar a máquina longe das imperfeições do movimento. Naquela época não tínhamos as máquinas digitais e a sensibilidade do fotógrafo tinha que estar aliada a técnica, no caso dele, fácil, para mim, estava como observador, absorvendo cada movimento, cada olhar, cada gesto, cada click. O tempo parecia parar pra ele fazer o registro. Tempos depois vi os resultados, a luz intensa, a definição, o movimento dos carros riscado pelos faróis e luzes acesas em movimento. O que não se moveu, estava ali registrado, inerte, mas a vida, num pulsar, registrada pelo olhar do mestre Calino. Depois muitos fizeram essa cena, exercitando as lições deixadas pelo amigo querido.

Conheci o Calino usando bigode. Sua figura esguia as vezes se confundia com a imagem dos cachorros que teve, com as mesmas feições e olhares. Conheci um Calino que não se furtava de ensinar, de compartilhar informações, de enriquecer amigos de profissão com suas dicas, mesmo que em alguns momentos fossem seus concorrentes. A qualidade de seu trabalho era marcante e se destacava no mercado. Pra mim, publicitário de formação, o orgulho de saber que ele fundou a primeira agência de publicidade da região. Eu ficava feliz ao poder ajudar com meus textos e ideias sempre que ele precisava.

Conheci um Calino família, que zelava pelos filhos e netos, que cuidada das coisas para que sua cumplicidade com Alcione resultasse em sorrisos. Naturalmente deve ter havido outro Calino, rígido, brigão, ansioso, como todos nós, mas esse eu não conheci. Na luz vermelha do quarto de revelação. Perceber sua atenção nos detalhes, no ampliador, nos banhos de química de badeja em bandeja até os varais para secagem eram mágica para um jovem profissional como eu, no início de carreira. Ficava encantado e esperando a imagem se formar na bandeja.

Hoje, apesar da partida, de estar fora de comunicação e somente ter recebido a notícia após seu sepultamento. a imagem que se forma em minha mente é de amizade e gratidão, clara e indelével. A imagem de um profissional de sucesso, que não se fechou a tecnologia, ao contrário, procurou aprender com ela e melhorar o que fazia tão bem, até com o celular, buscando detalhes em seus registros. A imagem que se forma, é a tradicional foto da equipe de trabalho, a cada trabalho, com pessoas diferentes, mas sempre com sua presença e exemplo em cada um de nós.

Queria escrever ontem mesmo, numa homenagem ao amigo, mas não consegui. Ainda sem palavras, registro algumas de minhas memórias. Obrigado amigo! Gostaria de ter dito mais uma vez. E com um terno beijo de amigo, esperando sua inquietação ao dizer, o que é isso, beijo não. Mas sempre dizia a você, eu com carinho beijo meu pai e o considero como tal, amigo e pai.

Jader Costa

Diretor Executivo

Brasil

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