Cultura 10/12/2015 12:18

Exposição La Carga

Correspondente visita exposição em Quito, e conta um pouco sobre essa história.

Quando decidi viajar a Quito no Equador em outubro de 2015 fiz uma pesquisa sobre locais para me hospedar. Decidi me hospedar na parte historica pois desejava conhecer a arquitetura Inca e as igrejas catolicas construidas em meados de 1600, apos a dominacao Espanhola.

Por imensa surpresa no local em que me hospedei conheci a Marcele, dona da pousada. Uma Equatoriana cujos pais deixaram para ela uma hospedagem. Sua origem Colombiana, muito perspicaz com seu espanhol e avida para conhecer e trocar informacoes com sua hospede Brasileira, ja que pelo que compreendi os Brasileiros nao eram figuras tao frequentes naquela cidade. Um ou outro por aqui e ali, diferente da imensa turistada Europeia e Americana que predominava em Quito. Com muita paciencia e atencao fui conhecendo a Marcela e a Lorena, uma Americana de raiz, apaixonada por sua vida em Quito.

Trabalhava com toda a sua simplicidade como tradutora e voluntaria em uma ONG. Com um arcabolso cultural, politico e historico infinito me convidou para ir ate o Centro Cultural Metropolitano para conhecer a exposicao de telas sobre diferentes passaros que se realizaria naquele dia de outrubro de 2015. Por fim , convite aceito, marcamos de nos encontrar na exposicao. Fui eu com minha boina xadrez comprada em um mercado na minha cidade de Volta Redonda,um jeans e jaqueta de couro.

Entrei na exposicao de passaros a procura de Lorena - a tradutora de varios livros estrangeiros, por surpresa nao a encontrei. Perambulei pela exposicao, com olhares de curiosidade desde a entrada oficial passando pelos guardas muitos corteses para comigo e entre os curiosos. Apesar da curiosidade nao chegaram a me indagar nada. Ao sair da exposicao vi no patio escuro figuras de mulheres negras em tamanho real. Fiquei surpresa pois naquele universo real so existiam eu e mais duas pessoas negras. 
 

 

Fui logo retirada do local pelo guarda e decidi voltar no dia seguinte para visitar aquela outra exposicao. No outro dia ao amanhecer fui saber sobre Lorena, porque nao tinha ido a exposicao e fui admirada que esta havia sido barrada na entrada. Fiquei boquiaberta, chorei de raiva por nao entender o motivo de uma pessoa ser barrada na entrada de uma exposicao de arte. Logo ela que certamente e seguramente tinha mais conhecimento que todos aqueles engravatados e vestidos superficialmente para aquela festividade. Tive que me deparar com uma das primeiras demonstracoes de preconceito social para a minha tristeza naquela cidade. Mas este texto e sobre a alegria e a alegria veio ao me deparar com a exposicao de Alice Trepp, 16 imagens de mulheres, chamada La carga- La mujer del Chota, sus esfuerzos y esperanzas.

Uma escultora de raiz europeia que desde a decada de 90 se encanta com a minoria negra de Quito que la chegou " escravizada" pelos jesuitas e ocupou um vale chamado Vale del Chota. Esta populacao a cerca de Quito era a imagem esculpida e que me virou o olhar. Logo conheci o curador ao observar a obra este veio ao meu encontro. Afinal eu olhava curiosa para aquelas imagens e queria saber. Aonde estavam aquelas pessoas? Ja que no dia a dia da parte historica havia me deparado com origens europeias, indigenas,mas nada me deparado com uma figura de origem negra.

E assim surpresa tive a oportunidade de conversar com o curador Patricio Estevez que muito cuidadosamente me explicou sobre a exposicao e me encheu de entusiasmo para conhecer sobre a autora da exposicao. Uma mulher simples, com olhar apurado para os detalhes e avida por representar fidedignamente a exclusao social e a carga que carregam as mulheres negras que trabalham no comercio de frutas e legumes dos mercados de Quito. Cada uma delas com suas historias representadas em figura e texto, muito me recordou do meu imenso Brasil.

Emocionada e assustada fiquei quando ela me pediu para fazer uma escultura minha. Ainda nao sei... e assim admirada com a diversidade de Quito no Equador venho trazer aos meus amigos brasileiros o meu olhar sobre a exposicao de Alice Trepp e o sonho de levar ate o Brasil o que os meus sentidos puderam capturar.

Obras esculpidas por Alice Trepp na exposição La Carga em Quito, Equador.

Alessandra Francisco

Correspondente

United States of America (USA)

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