Hoje nos despedimos de Ciron Silva
O musicista, voltaredondense, apaixonado pelo violão e dominador de sua técnica, partiu para deixar saudade.
Um querido amigo de muitos cuidados com a cultura e a arte. Dono de um talento especial, Ciron emprestou a todos nós um pouco de sua simplicidade e carisma, que certamente influenciaram muitos artistas e que nos encheram de orgulho ao ouvir falar de seu trabalho como filho de Volta Redonda.
Não sou músico, mas sempre apreciei e trabalho e a destreza do Ciron, sua percepção do que o rodeava e de seu sorriso franco. Hoje estive na despedida e notei algo diferente. Apesar de ser comum o afastamento e retirada das pessoas quando um sepultamento termina, hoje todos os que estiveram lá não saíram, pareciam não acreditar ou talvez absorver um pouco mais das boas lembranças que ele deixou.
Julinho dos Palmares cantou um Choro, acompanhado pelo violão e pandeiro. Como ele confessou, “tive a oportunidade de cantar esse choro pra ele ouvir quando ainda estava vivo”. A emoção estava estampada na expressão de cada um, no choro, mesmo contido que pude ouvir de amigos que acompanharam sua trajetória. Lá estava a família, partida como todos nós, mas altiva como ele sempre foi, honrado pelo trabalho e por sua ética.
Todos os que puderam conhece-lo certamente guardarão as melhores lembranças pra ocupar o vazio que ele deixou. Não gosto de fotografar velórios, muito menos filmar, mas hoje um sentimento diferente tomou conta de mim e registro essa pequena homenagem póstuma. Peço desculpas aos amigos que eventualmente tenha registrado em minhas imagens, por expor a sua dor, mas os convido a fazer parte dessa homenagem.
O silêncio é algo que um artista gosta apenas para rever sua criação. Ao som de palmas, por sua trajetória, foi recebido Ciron Silva, como muitos o chamavam. Aos familiares e amigos, meus sinceros abraços, como um elo de conforto. Receberão muitos e ainda se lembrarão de Ciron em cada gesto, sorriso, olhar, som, cordas, violão. Hoje ao olhar um instrumento, especialmente o de 7 cordas, minha memória registra um sobrenome CIRON, que passa a fazer parte da história de nossa cidade.
Que Deus, em sua infinita sabedoria e misericórdia, nos permita reavivar as melhores lembranças, nos ajude a contar as melhores histórias e a consolar nosso choro. Obrigado Senhor, pelo tempo que convivemos, alguns mais outros menos, mas todos eles de forma marcante. Que seus alunos tenham aprendido lições e as repassem a outros; que inspirem outros com as músicas que aprenderam e se fiem no exemplo de esmerar-se na técnica como fez o mestre Ciron. Perdão Senhor, porque negligenciamos o tempo que tempos e as oportunidades que temos de estarmos juntos.
Da última vez que estive com Ciron, estávamos intercedendo por sua vida no altar, para que Deus fizesse e sua vontade (mesmo que a gente não a compreenda agora). Ele recordava que nosso último momento antes daquela noite, havia sido 2 anos atrás conversando com o Paschoal Posidente no Gacemss. A cada dia boas lembranças surgem, mas ao perceber que não usamos o tempo que temos para estar com quem gostamos, precisamos nos corrigir.
Que a partida de hoje, com a bandeira do Botafogo (paixão do Ciron) descendo no caixão, embalado por música e palmas seja a lembrança mais doce. “Obrigado, amigo, por ter nos presenteado com sua companhia por um tempo”, seria nossa palavra ao Ciron hoje.

Jader Costa
Diretor Executivo
Brasil